Forno do povo

O nosso Forno do Povo é um espaço de memória da produção agrícola.

Quem passe no Largo do forno não pode ficar indiferente ao edifício que proporciona o reencontro com a identidade cultural de Soutelinho da Raia. Diante dele, brotam, na memória, os aromas do engenho das nossas gentes.

É pena que, podendo ser um ponto turístico de referência, as pessoas lhe tenham virado as costas e o deixem ali abandonado e indefeso, por exemplo, perante a EDP-Energias de Portugal que, não tendo mais nenhum sítio para colocar um poste de eletricidade, foi pô-lo mesmo diante dele.

Quem não teve a possibilidade de comer ali um pouco de “bica de pingo” ou de provar, ainda quente, um pedaço de pão ou de folar, por altura da Páscoa, certamente não entenderá a tristeza que se sente ao ver fechadas aquelas portas inacabadas de alumínio que pouco combinam com a restante estrutura, exceto no facto de estarem também frias e mal cuidadas.

Fazem-se festas e encontros na Escola (e muito bem!) e por que não reativar e recuperar também este espaço cheio de mistério, onde os mais velhos possam ensinar às crianças como faziam o pão quando eles próprios tinham direito a brincar?

Boi do povo

As raízes do «Boi do Povo» e das chegas não estão perfeitamente definidas. Já no paleolítico se acreditava que os bois eram "animais de combate, fortemente armados e que se envolviam em lutas ferozes".

Os estudiosos apontam uma relação simbólica entre o boi e todas as sociedades pastoris e agrícolas, como é a barrosã. As populações afirmavam a sua identidade através do confronto entre os animais, das suas vitórias ou derrotas.

Para além da função reprodutiva, o boi tinha ainda a importante tarefa de representar as aldeias nas chegas. Antes de cada confronto, iniciava-se um ritual com o reforço da alimentação do animal para ganhar peso e massa muscular que lhe permitisse ter uma melhor prestação na luta.

Nestes rituais, juntava-se o religioso ao profano, pois para além das rezas das mulheres ao santo, o boi ainda era introduzido na capela ou levado à bruxa para garantir a sua vitória.

A comunidade, quando o seu boi ganhava, fazia festas que chegavam a durar semanas, abanavam-se lenços à passagem do vencedor e as mulheres até chegavam a pendurar os seus saiotes ou fios de ouro nos cornos dos animais. Se o boi perdia o combate era imediatamente vendido.

Infelizmente, aquilo que era uma celebração coletiva do povo transformou-se num grande negócio, "O ritual transformou-se num espetáculo".

Atualmente a maior parte dos bois existentes no Barroso pertencem a privados, existindo apenas dois ou três bois comunitários nesta região.

Para o antropólogo João Sardinha, a emigração em massa nos meados do século XX esvaziou as aldeias do Barroso e levaram ao fim do boi do povo. No entanto, são hoje esses emigrantes que mantêm as chegas quando regressam à terra natal, chegando a pagar "por uma viagem às origens". "Hoje os confrontos entre os bois realizam-se num campo delimitado, até têm direito a um relatador e os bois pertencem a privados". Antigamente as comunidades "eram intervenientes ativas" nas chegas e agora as pessoas "são apenas espectadores passivos".

Soutelinho da Raia, em tempos, também teve o seu boi do povo, cuidado pelo Luís (da Padrosa), que para além de servir para reprodução e como elemento de representação da aldeia na chega que se realizava na festa do Senhor dos Desamparados, assustava, todas as manhãs, as crianças que iam para a Escola Primária com os seus urros fortes.

 

Sítios da Internet consultados:

- https://www.cafeportugal.pt/pages/noticias_artigo.aspx?id=6341, acedido em 20/06/2013

-https://www.maraoonline.com/marao/marao_online/4CF0B3E9-F19F-4EE2-8EEA-5DB16332792C.html

- Fotografia de C. Ribeiro (Fotografia vencedora da rubrica "Olhares", revista OMFD, edição n.º 74), In: https://carlosribeiro-photos.blogspot.pt/2011/06/boi-do-povo.html

Semear, segar e malhar

Para quem quiser explicar aos seus filhos e/ou netos, ou simplesmente recordar como é que antigamente se semeava, ceifava e malhava o centeio, que está no pão que nos alimenta a cada dia, aqui fica este vídeo representativo destas terefas e que bem poderia ter sido feito em Soutelinho da Raia.

 

Vezeira

A vezeira é uma associação de pastoreio em comum, que ainda se encontra em Portugal, sobretudo nas regiões serranas do Norte, onde o comunitarismo agro-pastoril ainda tem presença significativa. Na vezeira o pastor é determinado rotativamente entre os criadores de gado a pastorear, através de uma escala, que compreende turnos de dimensão variável. Desde o meio caminho do itinerário, ao dia inteiro de guarda, a dois dias consecutivos ou alternados, até à semana inteira. Há várias modalidades para obter a vez de cada pastor (vezeireiro ou vezeiro), em geral engenhosa se bem adaptadas às espécies pecuárias, ao aproveitamento das pastagens, ao habitat e a outros elementos da estrutura agrária.

Em Soutelinho a vezeira foi prática comum até meados da década de 80. O responsável pela vezeira tocava (soprava) na buzina (num búzio) para que os vários proprietários de cabras as retirassem das suas cortes (lojas) e as conduzissem à “cançalha” o mais rapidamente possível. Em seguida ele conduzia-as para os campos, uma ou duas vezes ao dia. O número de dias que cada proprietário cuidava da vezeira variava consoante o número de cabras que possuísse.